7.12.08

EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO HISTÓRICO


A história antigamente era historizante, episódica, voltada para o fato histórico e retratava os acontecimentos políticos, diplomáticos, militares e religiosos. Deste período até o início da era cristã as narrativas históricas reproduziam os fatos reais, ficções e prodígios. Os gregos, por meio de Hesíodo, registravam acontecimentos dignos de serem lembrados. Com Heródoto a história era o resultado de pesquisa acerca das guerras entre os gregos e persas, buscando informações acerca da verdadeira história da região. Nascia, então a História Política tradicional que era ligada à memória e utilizada pelos gregos e, posteriormente, pelos romanos. Por outro lado, Roma procurava distinguir a história da lenda por meio de Tito Lívio que acrescentou intenções morais e patrióticas tendo como personagem central o Estado romano.Na Idade Média ocorreu a dimensão filosófica da história com o triunfo do cristianismo que rompia com a tradição greco-romana e se formando com base nas contribuições orientais resumidas na Bíblia. Do ponto de vista metodológico e da técnica histórica, a Idade Média fica compreendida como um tempo morto ou de regressão em face do obscurantismo que possibilitou a história feita pelos eclesiastas e escribas, sem, no entanto, poder se destacar historiador algum.Com o Renascimento no séc. XVI nasce o método crítico e as técnicas modernas da história. E com o Humanismo Renascentista nascia a crítica erudita das fontes e negação de lendas, fantasias e milagres. Do séc. XVI ao XVIII aparecem os historiadores oficiais a serviços de príncipes e repúblicas. Do séc. XVIII ao XIX aparece a Ilustração e o Romantismo: uma história ainda política feita pelos antiquários que eram os eruditos. Destaque para a escola histórica alemã pela erudição, pela critica documental rigorosa, pela diversidade de fontes e pelo conhecimento filológico. O século XIX ficou conhecido como o século da história erudita.Efetuando uma avaliação vê-se que a modernidade se caracteriza pelo paradigma Iluminista ou Moderno, voltado para a base científica e racional baseada no marxismo e na Escola de Annales. É sob este paradigma que nasce a Teoria Modificada do Reflexo com a análise da particularidade–universalidade (objetividade) e singularidade (subjetividade); totalidade e como conseqüência de princípio do materialismo dialético.Para melhor entendimento é importante ressaltar que a concepção de história de Hegel pressupõe um espírito abstrato ou absoluto desenvolvendo-se de forma tal que a humanidade não é mais do que uma massa que o transporta, consciente ou inconscientemente. Daí Hegel introduzir, dentro da história empírica e exotérica, uma história especulativa, esotérica. Passa-se a entender que a evolução histórica é uma sucessão de fenômenos submetidos a leis. Então, para Hegel, a História é apenas o desenvolvimento do Espírito universal no tempo. A filosofia da história é a história considerada como inteligência, os fatos são tomados tais quais são, e o único pensamento que ela neles introduz é o pensamento de que a razão governa o mundo.Com o Positivismo surgido em 1870, com Auguste Comte e Stuart Mill, este busca a dinâmica social com a historiografia metódica de base científica, distinguindo a verdade histórica da ficção, e a dicotomia entre ciência e arte. Dá origem à História das Idéias. Outra vertente surge com o marxismo que se direciona ao problema hegeliano de explicar a origem do estado social buscando na economia política a anatomia da sociedade civil, identificando a causa fundamental de toda evolução social na luta que o homem trava com a natureza para assegurar sua própria existência. Para Marx as relações de produção determinam todas as outras relações que existem entre os homens na sua vida social. A partir daí o marxismo ocidental inaugurou a História Nova desenvolvido por Gramisc, Lukács e escola de Frankfurt. No Brasil seu maior represnetante foi Nelson Werneck Sodré.Com a Escola de Annales influenciada por Durkheim, pelo marxismo, estruturalismo e quantitativismo, a história se volta para uma postura social e econômica, passando o seu estudo a ser a interpretação do homem no tempo: documento, fato histórico e tempo. Esta escola busca desvencilhar a historiografia de identidades abstratas, preferindo voltar-se para a história os seres vivos, concretos e à trama de seu cotidiano.O paradigma Pós-Moderno ocorre sob o simbólico-realista com a Nova História de relativismo extremo.A partir daí convem repassar as várias nomenclaturas para a histórica como econômica, social, dentre outras. A História Econômica que é mais conhecida como Escola Histórica Francesa, trazia sofisticados modelos matemáticos para explicar tudo. A História Social nasce como uma história-problema, aliada nas ciências humanas e debatendo o papel da ação humana na história. No Brasil seu principal representante foi Florestan Fernandes. A História das Mentalidades tem uma visão antropológica oriunda da Escola de Annales. A Histórica Cultural é a Nova História estudando as manifestações oficiais ou formais da cultura de determinada sociedade. No Brasil foi desenvolvida por Gilberto Freire e Sérgio Buarque de Holanda. A História Agrária surge no Séc. XX no Rio de Janeiro por meio da geografia humana sob a ótica da agricultura: terra, homem e técnica. Voltada para a história regional econômica e social, ou seja, para o processo produtivo agrícola. A História Urbana nasce em 1864 com Max Weber e é voltada para a urbe, metrópole e vida urbana. História das Paisagens surge a partir de Darwin em 1859, reunindo a geografia humana e a história agrária, com relação homem/natureza e a ecologia humana. A História Empresarial surge com Say e Schumpeter numa revisão da teoria da dependência, acesso à documentação e revalorização da microeconomia. A História da Família parte da demografia história com a reconstituição dinâmica populacional, envolvendo temas como fertilidade, comportamento sexual e família como uma unidade de produção do consumo. Dá-se em 1950 no Brasil. A História do Cotidiano e da Vida Privada envolvendo os detentores do poder e os excluídos da história numa invenção do cotidiano por meio de uma antropologia histórica. A História das Mulheres nasce por força das campanhas feministas, de gênero, da família, maternidade, gestos, sentimentos, sexualidade, ação e luta e trabalho. A História da Sexualidade que tem em Foucault a observação dos costumes, do sexo e da repressão. A História da Etnia sob a observância da dominação e escravidão, descoberta da humanidade do outro, ser o que se é e as concepções etnocêntricas. A História das Religiões no contexto de progressiva dessacralização iniciada no séc. XVI, envolvendo cronologia, manifestações religiosas, doutrinas eclesiásticas, crenças e mentalidades e hibridismos sociais.



BIBLIOGRAFIA:


BLOCH, Marc. Apoogia da história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BRAUDEL, Fernand. Uma lição de história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.

______. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1992.

CARDOSO, Ciro Flamarion/ BRIGNOLI, Héctor Pérez. Os métodos da história. Rio de Janeiro: Graal, 2002.

CAROSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da história. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

CASTRO, Ubiratan. Introdução ao estudo da história. Salvador: UFBA, 1988.

FÉLUX, Loiva Otero. História e memória: a problemática da pesquisa. Passo Fundo: EDUPF, 1998.

GARDINER, Patrick. Reorias da História. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1964.

GUAZELLI, César Augusto Barcellos et al (Orgs). Quesotes de teoria e metodología da História. Porto Alegre: Universidade/UFRGS, 2000.

HELLER,Agnes. Uma teoria da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.

HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

WARRINGTON, Marnie. 50 grandes pensadores da História. São Paulo: Contexto, 2002.

LE GOLF, Jacques; NORA, Pierre. Fazer História. Amadora: Bertran, 1977.

PLEKHANOV, G. A concepção materialista da História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

VIEIRA, Maria do Pilar; PEIXOTO, Maria do Rosário; KHOUURY, Yara Maria. A pesquisa em história. São Paulo: Atica, 1999.

WHITROW, G. J. O tempo na história: concepções da pré-história aos nossos dias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.


Fonte: Pesquisa e Cia