10.12.08

Planos de aula Globalização e formação dos Blocos Regionais

Ensino Fundamental II

Seqüência Didática

Introdução

O termo globalização dá margem a muitas interpretações, especialmente porque não está restrito a uma área de conhecimento ou a uma disciplina específica. Para muitos historiadores, é um processo que tem início com as Grandes Navegações; para os juristas, remete à expansão do Império Romano ou, ainda, para os economistas, restringe-se a um processo ligado à liberalização da economia e ao crescimento das trocas internacionais. Para a Geografia, nos termos em que Milton Santos propõe (no texto “Por uma outra globalização”), trata-se de um período histórico que é mais facilmente identificável nas crises econômica, política e social ocorridas no decorrer da década de 1970, embora devamos considerar que o conjunto de tais crises se remete ao fim da II Guerra Mundial. Para esse autor, o início desse período está intimamente relacionado com o uso das novas tecnologias da comunicação e da informação (NTCIs), de que os grandes agentes corporativos transnacionais e os Estados passaram a lançar mão, assim como, de modo crescente, também homens, mulheres, adolescentes e crianças, cidadãos comuns, se apropriam para se divertir, trabalhar e se instruir. O impacto dessas tecnologias no uso dos territórios é tão grande que a própria organização do espaço mundial se transformou aceleradamente, e a formação de blocos regionais acontece hoje em todo o planeta. Neste plano de aula vamos trabalhar os conceitos básicos para compreender o processo de globalização e sua relação com a formação dos blocos regionais.


Objetivos -
Definir globalização a partir do prisma da Geografia, isto é, a partir da realidade territorial; - Compreender que a globalização está assentada sobre bases técnicas e políticas; - Relacionar o processo geral que concerne à globalização com a formação de blocos regionais; - Distinguir blocos regionais de acordos de livre comércio. Em resumo, pretende-se dar conta das seguintes expectativas de aprendizagem: - Apontar que a Geografia compreende a globalização como um período histórico; - Verificar que a formação dos blocos econômicos está inserida nesse contexto e que os exemplos anteriores ao presente não têm o mesmo lógica explicativa; - Observar como a construção dos blocos de poder responde a uma necessidade dos Estados de se fortalecerem ante o poder crescente das corporações transnacionais.


Conteúdos -
Globalização como período histórico: o uso civil das tecnologias da informação e da comunicação (sistemas orbitais e cabos de fibra ótica). - A transformação do conceito de região no atual período histórico: os espaços contíguos e os espaços das redes. - O surgimento das corporações transnacionais e novas estratégias de uso do espaço planetário. - A formação dos blocos regionais como forma de restabelecer o equilíbrio de forças e ampliar as escalas de ação.


Ano
7º ou 8º

Tempo estimado
Quatro aulas


Material necessário
Mapas de blocos regionais no mundo (ver link na bibliografia), mapa-múndi eventualmente o Atlas.



Desenvolvimento das atividades
Primeira aula



O professor pode começar realizando a seguinte exposição: a formação do processo de globalização remonta ao imediato pós-II Guerra Mundial, quando se instalam a Guerra Fria e a conseqüente corrida armamentista. Dentre as várias tecnologias criadas com fins bélicos, destacam-se o computador eletrônico e os satélites artificiais. O computador eletrônico muito rapidamente veio a criar a internet, a princípio reservada apenas aos engenheiros da NASA. Já os satélites eram geralmente associados a fins militares, especialmente ligados à espionagem.À medida que essas tecnologias foram se banalizando, ou perdendo seu valor estratégico militar, foram sendo repassadas para a sociedade civil de modo crescente. Na década de 1970, o consumo dessas tecnologias em setores industriais já era acessível a muitos e acabou por ser uma saída diante do esgotamento do sistema de produção em série desenvolvido por Henry Ford, que era baseado na esteira de produção. A partir desse período, as grandes empresas passaram a valer-se dessas tecnologias e, com isso, iniciava-se uma nova etapa e sua história: surgia assim a chamada corporação transnacional. Basicamente, a novidade era que as grandes empresas poderiam deslocar suas diversas fábricas para outros países, onde fossem mais interessantes os rendimentos (baixo custo com salários, matérias-primas e também de localização), embora o controle – a sede – permanecesse no país de origem.É importante ressaltar que, antes, os sistemas de comunicação e informação não eram seguros o suficiente para lançar mão de tal estratégia. Resta dizer que não bastavam as condições técnicas seguras, também foram necessárias transformações políticas para que se pudesse fazer pleno uso dessas novas possibilidades técnicas. Foi nesse contexto que, em fins da década de 1970, o presidente estadunidense Ronald Reagan e a primeira-ministra inglesa Margareth Tatcher passaram a apregoar uma agenda de desregulamentação da economia (até então, a economia tinha uma forte intervenção do Estado), o que ficou amplamente conhecido como “neoliberalismo”, uma alusão ao liberalismo que, sob novos moldes, era retomado – tinha sido interrompido em 1929 com a quebra da bolsa de Nova York. Ainda nesta aula, sugerimos reservar uma pequena parte para formação de grupos que se dividirão em dois temas: corporações transnacionais e blocos regionais. Sugerimos também que se escolham três grandes corporações de origens e setores distintos (GM, Bayer e Sony, por exemplo) e três ou quatro blocos (União Européia, Mercosul e Alca, sendo esta importante para a conclusão dos trabalhos). Solicite aos alunos que recolham informações sobre as localizações das várias fábricas dessas empresas espalhadas pelo mundo (o que em si já é uma atividade elucidativa, porque o aluno distingue a empresa da fábrica) e, quando possível, material sobre a fusão ou a compra de outras empresas. Para os grupos que escolheram trabalhar com os blocos, peça para reunir informações como o PIB total do bloco, os países integrantes, o volume da população, da área territorial e, quando possível, do comércio realizado entre um bloco e outros e dele com países. Na quarta aula, os grupos apresentarão os dados para uma reflexão coletiva, mas outras informações também serão fornecidas pelo professor na terceira e na quarta aula.

Segunda aula

Voltando a exposição do professor: o que foi visto na aula anterior em termos de espaço geográfico? Que o surgimento das novas tecnologias (NTCIs) possibilitou um novo uso do tempo e do espaço e que os primeiros agentes a valerem-se desses meios foram as corporações. De fato, tais empresas, antes dessas novas estratégias, eram conhecidas como empresas multinacionais e, quando incorporaram essas tecnologias, foram elevadas à categoria de corporações transnacionais. Outro dado importante da aula passada é que não basta existirem as tecnologias sofisticadas para que possam ser utilizadas em sua plenitude, é necessário também que haja uma mudança política, uma mudança de regras, para que as novas possibilidades sejam de fato usufruídas. Assim, os Estados também tiveram que se adaptar às mudanças que se operaram na economia, cujos fluxos ficaram cada vez mais acelerados em função das trocas internacionais que as corporações passaram a realizar entre si. Agora elas atuam em muitos mais países do que o montante que se verificava antes da década de 1970, e tudo isso devido às transformações técnicas e tecnológicas comentadas na aula anterior. Como elas atuam se organizando em redes geográficas que integram todas suas atividades na escala mundial (em todos os países que interessam à corporação), fica cada vez difícil se referir a regiões industrializadas em oposição a outras que não são industrializadas. A lógica geográfica das corporações rompeu com essa regionalização clássica. As novas estratégias das corporações impuseram uma crise aos Estados, pois muitos países industrializados perderam boa parte de seu parque produtivo (ver a esse respeito o documentário "Roger & Me", de Michael Moore, sobre a saída de onze fábricas da GM dos EUA), assim como todos os países passaram a viver grandes entradas de volumes significativos de mercadorias baratas, vindas de países onde os custos de produção são muito baixos (a China ganha destaque nesse aspecto). Disso decorreu a destruição de vários setores industriais em diversos países, como ocorreu com a indústria de calçados no Brasil, por exemplo. A liberalização da economia foi central nessa crise vivida pelos Estados. Como resposta a essa nova situação, os Estados começaram a fazer alianças que resultaram principalmente em duas formas de organização supranacional: os blocos econômicos e os acordos de livre comércio. Estas duas formas de organização possibilitaram um reequilíbrio do poder de Estado, com êxitos mais ou menos evidentes, conforme o caso.

Terceira aula

O quadro acima apresenta dois grupos distintos: blocos econômicos e acordos de livre comércio. Nesta aula sugerimos que o professor apresente esse quadro logo no início da aula (pode ser na lousa ou no retroprojetor) e instigue os alunos a opinarem sobre as características de cada bloco ou acordo, perguntando, por exemplo, quais países compõem cada um, onde estão localizados (o mapa-múndi e o atlas serão excelentes instrumentos nesta aula e, a esta altura, os grupos já terão colhido algum material e provavelmente participarão espontaneamente). Em seguida, o professor poderá intervir e explanar sobre as características de cada um dos dois tipos de organização supranacional. Assim, temos que as organizações de livre comércio são constituídas por acordos internacionais que respondem a interesses mais conjunturais dos Estados, com vistas a fomentar as trocas comerciais – e não buscam tratar de problemas estruturais econômicos ou sociais pelos quais um ou mais países integrantes do acordo de livre comércio estejam passando. Também é importante mencionar que esses acordos são relativamente efêmeros e podem ser dissolvidos unilateralmente por qualquer Estado integrante que não tenha mais interesse na relação. Em contrapartida, os blocos econômicos são constituídos por tratados internacionais, e o comprometimento de cada integrante é muito grande com o conjunto dos membros. Outra característica marcante dos tratados é que os integrantes não podem se retirar de modo unilateral e, principalmente nos blocos econômicos, há sempre uma forte intenção de integração econômica e social entre os países membros. O caso mais elaborado que conhecemos é a União Européia. Só para sua formação foram necessários 3 grandes tratados internacionais. Hoje já tem uma moeda única, o euro, a moeda mais forte no mercado internacional. Outra informação importante que se deve mencionar nesta altura da aula é que o Mercosul inspirou-se na União Européia, já tem um parlamento provisório em funcionamento e está prevista a criação de uma moeda, assim como eleições diretas, num futuro próximo, para o parlamento – eleições que envolverão toda a população dos países membros.


Quarta aula

Nesta aula os grupos apresentarão as informações coletadas para toda a sala (mais ou menos cinco minutos cada grupo), enquanto o professor e mais um aluno vão anotando na lousa os dados que foram solicitados em três colunas distintas: dos blocos econômicos, dos acordos de cooperação e das corporações. Blocos econômicos: PIB conjunto, população total, área de abrangência. Acordos de livre comércio: PIB conjunto, população total, área de abrangência. Corporações transnacionais: Rendimentos anuais, número de países em que estão presentes, volume de empregos. A idéia é que o professor mostre que as corporações estão presentes em muitos países ao mesmo tempo e têm rendimentos muito expressivos quando comparados aos países isoladamente; entretanto, comparadas aos blocos econômicos, elas perdem essa dimensão. Também pode chamar a atenção para o fato de que o mesmo não vale para os acordos de livre comércio, pois estes não têm funcionamento conjunto e não pretendem ter (aqui se pode falar um pouco sobre a ALCA e por que muitos países da América Latina têm se recusado a dar continuidade ao processo conduzido pelos EUA).

Avaliação

Como avaliação de aprendizagem, sugerimos que o professor peça aos alunos que organizem um trabalho coletivo com os grupos que estavam formados, de modo a incorporar o que foi trabalhado nestas quatro aulas, principalmente a última, quando se produziram algumas reflexões coletivas e provavelmente muitas dúvidas não puderam ser esclarecidas (dada a complexidade do tema). Essas questões em aberto servirão de mote para referenciar a pesquisa que realizarão para a elaboração do trabalho coletivo.

Quer saber mais?

Bibliografia

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000.

ENCICLOPÉDIA DO MUNDO CONTEMPORÂNEO. São Paulo: Publifolha, 2003.

MOORE, Michael Roger & Me. Documentário realizado na década de 1980.

Internet http://cartographie.dessciences-po.fr/recherche.php5 (site de cartografia com buscador para vários temas distintos) http://cartographie.dessciencespo.fr/cartotheque/21C_integration_regionale_2005.jpg (mapa de integração regional no mundo)
Fonte: Revista Escola