3.11.09

Veja fotos históricas do Muro de Berlim antes da queda

Mundo celebra os 20 anos da queda do marco da Guerra Fria.
Veja imagens do tempo da Berlim e da Alemanha divididas.


'Operação Rosa’ levou apenas 5 horas para dividir Berlim com arame farpado.


Muro foi construído numa madrugada de domingo para ser surpresa.
Separação visava evitar fugas do leste para o lado capitalista do país.

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Trabalhadores e soldados da Alemanha Oriental iniciam a construção do muro que dividiu a cidade usando blocos de contreto, em 13 de agosto de 1961 (Foto: AFP)

A construção do Muro de Berlim, que dividiu fisicamente a principal cidade da Alemanha por 28 anos e se consolidou como maior símbolo da Guerra Fria, pegou de surpresa quase todas as pessoas que teriam as vidas transformadas por ele a partir do dia 13 de agosto de 1961.

O mundo começa nesta semana a celebrar os 20 anos da queda do Muro, que marcou a reunificação da Alemanha e o fim da Guerra Fria.


Uma operação ultrassecreta de codinome “Rosa”, comandada pelo Birô Político do lado oriental, levou apenas cinco horas para fechar completamente as fronteiras internas da cidade, proibindo a circulação entre as zonas ocidentais e a área sob influência da União Soviética.

Tudo foi feito sob sigilo, durante a madrugada de um domingo, para que não houvesse reação dos berlinenses ou dos Estados Unidos, maior potência que fazia oposição aos soviéticos. Além dos envolvidos na operação, ninguém foi informado sobre decisão de fechar as fronteiras, e mesmo os que viam a instalação das cercas de arame farpado que mais tarde se tornariam um muro de concreto achavam improvável que o fechamento fosse definitivo.

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Tropas da Alemanha Oriental formam barreira próximo à fronteira entre os dois lados de Berlim, no portal de Brandemburgo, em 13 de agosto de 1961, dia em que a cidade alemã foi dividida. (Foto: AFP)


Às 6h da manhã, enquanto a cidade dormia, era finalizada a primeira parte da operação que bloqueava 81 pontos de cruzamento e 193 ruas que atravessavam a fronteira, bem como os sistemas de transportes públicos. A cidade de 4 milhões de pessoas, que havia sido dividida de forma teórica após a Segunda Guerra Mundial, mas que na prática funcionava até então como um único organismo urbano, acordou cortada ao meio, separando famílias, amigos, casais e afastando trabalhadores dos seus empregos e estudantes de suas escolas. O dia ficou conhecido como “o domingo do arame farpado”.

O governo da República Democrática da Alemanha (RDA, o lado oriental) havia mobilizado 10 mil homens para garantir a segurança e evitar protestos após o fechamento da fronteira. À exceção de pequenos ataques de jovens do lado ocidental e de protestos menores do lado oriental, não chegou a haver confrontos violentos, nenhuma reação radical. Pego igualmente de surpresa, o governo norte-americano preferiu evitar o enfrentamento, permitindo que o lado socialista concluísse sua operação.

Contra desertores

A partir da operação “Rosa”, o objetivo era fechar a fronteira de 164 quilômetros em torno da Berlim Ocidental, ilha capitalista dentro da RDA. A antiga capital da Alemanha havia sido dividida entre os vencedores da Segunda Guerra Mundial, assim como o resto do país. Apesar de estar dentro do setor soviético, metade da cidade estava sob influência ocidental, vivendo num regime mais democrático e capitalista de que o restante da RDA.

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Trabalhadores de Berlim Oriental aumentam o tamanho do muro para isolar ainda mais os dois lados em 1º de outubro de 1961 (Foto: AFP)

Por mais que o lado ocidental fosse o alvo prático das cercas que mais tarde se tornariam um muro de concreto, a população oriental, no lado comunista, é que acabou se tornando prisioneira do regime.












Segundo o historiador britânico Frederick Taylor, autor de “Muro de Berlim”, obra que narra em detalhes, e quase 600 páginas, a história da separação da cidade alemã e da Guerra Fria, este era o principal objetivo da separação.


Para os líderes do lado comunista, diz, era preciso interromper o fluxo de pessoas que fugiam definitivamente para o lado ocidental em busca do capitalismo que se desenvolvia lá, ou evitar a ação de “atravessadores de fronteiras”, que trabalhavam do lado ocidental de viviam na economia socialista oriental. Um mês antes da separação de fato, uma média de mil pessoas do leste passavam, por dia, para o oeste de Berlim, ritmo que diminuiria a população do lado socialista em meio milhão de habitantes em apenas um ano.


O que era visto como uma busca por uma vida mais digna pelo Ocidente era chamado “deserção” pela Alemanha Oriental, reflexo de um tráfico de seres humanos. A migração se dava porque, apoiada pelas potências capitalistas, a Alemanha Ocidental se desenvolvia muito desde o fim da guerra e tinha maior qualidade de vida, enquanto a Oriental vivia o que era considerado o equivalente socialista de uma recessão, com a economia mantida artificialmente com apoio soviético.

Durante o “domingo do arame farpado” e depois que a fronteira foi fechada definitivamente pelo muro de concreto, as deserções passaram a ser punidas com severidade, e os guardas da fronteira tinham permissão para atirar contra os alemães orientais que tentavam fugir. Dados oficiais dizem que a média de mil fugitivos por dia caiu para 28 na noite do domingo, 41 no dia seguinte e casos muito isolados desde então.

Guerra Fria

Desde o fim da Segunda Guerra, Berlim havia se consolidado como o principal palco de atuação das maiores potências em confronto durante a Guerra Fria. A cidade era usada como área em que Estados Unidos e União Soviética testavam suas políticas internacionais, pressionando o adversário e estudando a resposta inimiga.

Bem antes da separação com cercas de arames farpados e da construção do muro, Berlim Ocidental já tinha sofrido as conseqüências de um maior desenvolvimento econômico. O crescimento industrial de todo o lado ocidental era alto, chegando à ordem de 15% ao ano nos anos 1950, mas, antes disso, ainda em 1948, a área de influência de EUA, Inglaterra e França adotou uma nova e mais forte moeda, o marco alemão. Em resposta, em 24 de junho, um dia depois da reforma monetária, os soviéticos bloquearam todas as vias de acesso à cidade.

O Bloqueio de Berlim foi um dos primeiros eventos de grande relevância da Guerra Fria. Todas as ligações ferroviárias e rodoviárias para a cidade de dois milhões de habitantes (do lado ocidental) foram cortadas, e até o abastecimento de energia elétrica foi interrompido. Os governos ocidentais, entretanto, abraçaram a causa dos berlinenses como símbolo do bloco capitalista do conflito não-declarado contra os comunistas.

Evitando abrir uma guerra contra a União Soviética, iniciaram uma enorme operação aérea para abastecer a cidade usando aviões. Em pouco tempo, mais de 70 mil toneladas de alimentos eram desembarcadas nos aeroportos do lado ocidental de Berlim por mês, o que aumentou a admiração pelos Estados Unidos na cidade, e aproximou o Ocidente da Alemanha. O bloqueio durou menos de um ano, mas foi o primeiro sinal da divisão que a cidade enfrentaria até novembro de 1989, quando o muro de Berlim foi derrubado e deu início à reunificação da Alemanha.



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