25.8.10

Biografia de Arthur Schopenhauer

Introdução sobre Schopenhauer


Schopenhauer
O mundo e a vida não passam de uma piada de mau gosto. Esse é um dos pensamentos que Arthur Schopenhauer, o “filósofo do pessimismo”, nos deixou. Mas o pessimismo de Schopenhauer era de um tipo revigorante. Sua filosofia parece ter sido provocativa ao temperamento artístico, já que importantes artistas como Wagner, Thomas Mann, James Joyce e Samuel Beckett, entre outros, encontraram na obra do filósofo inspiração para seus trabalhos.

Filósofo espirituoso e perspicaz, ele exerceu forte influência sobre
Nietzsche, um dos mais brilhantes pensadores dos últimos tempos. Suas ideias também tiveram impacto nos trabalhos de Sigmund Freud e do filósofo Ludwig Wittgenstein. Seus escritos cativantes contrastavam com sua figura desagradável, muitas vezes sarcástica, egoísta e agressiva.

A coisa em si

A coisa em si refere-se àquilo que existe independentemente de nossa percepção sensorial. Em outras palavras, é aquilo que realmente e verdadeiramente é. Demócrito deu a isso o nome de matéria; afinal, assim o fez também Locke; para Kant era um
x; e para mim é a vontade.

Parerga et paralipomena


Ao declarar que o mundo é indiferente ao nosso destino, ele quis dizer que não é de propósito que ele nos frustra. Com isso, ele se aproximou muito mais de descrever a situação real de nossas vidas do que filósofos que observaram o mundo de um ponto de vista otimista ou promissor. Nas páginas a seguir, conheça um pouco mais sobre a vida e a obra de Arthur Schopenhauer.

arthur schopenhauer
Reprodução

Este artigo é um resumo do livro “
Schopenhauer em 90 minutos”, de Paul Strathern, da coleção “Filósofos em 90 minutos” da Jorge Zahar Editor, publicado em 1998.

O jovem Arthur Schopenhauer

Arthur Schopenhauer afirmou que todos nós temos a oportunidade de ver além do mundo das aparências, olhando para dentro de nós mesmos. A trajetória desse filósofo combativo e que só atingiu o reconhecimento no fim da vida começou em 22 de fevereiro de 1788, quando nasceu na então cidade prussiana de Danzig (atualmente Gdansk, na Polônia). Aos cinco anos, junto com sua família, mudou-se para Hamburgo. Lá, cresceu como um garoto sofisticado e pretensioso.

Quando tinha dez anos foi estudar na França e aos quinze passou dois anos viajando com os pais pela Europa. Em suas viagens pelo continente, que havia há pouco emergido das Guerras Napoleônicas, o jovem Schopenhauer mergulhava em depressões ao ver a miséria e a destruição humana que os conflitos deixaram como herança. Obrigado pelo pai, teve de abandonar os estudos e se tornar um homem de negócios. Logo depois, seu pai se suicidaria. Essa foi uma fase para Schopenhauer de profunda angústia pessoal. Após o suicídio do pai, sua mãe e irmã foram para a refinada Weimar. Ele permaneceu em Hamburgo trabalhando com o que não gostava até reunir forças e ir estudar em Gotha, mas acabou expulso por escrever um poema sobre um professor alcoolizado.

Antes de ir para a Universidade de Göttingen, Schopenhauer foi viver um tempo com a mãe em Weimar. Ela, que era uma mulher exuberante, tinha se tornado uma estrela dos salões literários locais ao escrever romances leves e se tornar amiga de Goethe. Schopenhauer ficou chocado com a independência e o comportamento da mãe e a relação entre os dois se tornou insustentável. Sua ida para Göttingen para estudar medicina foi um alívio para todos. Na universidade, logo descobriu a filosofia, se interessando principalmente pelos pensamentos de Platão e Kant. Descobriu sua perspicácia filosófica e em 1811 foi para Berlim onde desenvolveu seu doutorado.

Quando voltou para Weimar, voltaram também os conflitos com a mãe. Mas, além das querelas domésticas, Schopenhauer teve a oportunidade também de conhecer Goethe, com quem passou horas conversando. Outro fato importante foi ele ter descoberto a filosofia hindu que iria influenciar profundamente suas ideias. O clima doméstico, no entanto, era insuportável e em 1814 ele deixou definitivamente o lar materno e foi morar em Dresden, onde escreveria sua obra-prima: “O mundo como vontade e representação”.

Schopenhauer: o mundo como vontade e representação

arthur schopenhauer
© istockphoto.com / HultonArchive
Schpenhauer afirmou que o mundo que vemos consiste em representação. Isto é, o que percebemos são fenômenos e não a coisa em si, como Kant já tinha definido. Mas, ao contrário do que imaginava Kant essa representação não se apoiava na realidade final donúmeno, e sim na “vontade” universal. Para Schopenhauer, essa vontade é cega, perpassa todas as coisas e é sempre destituída de objetivo.

Como essa vontade está além do espaço e do tempo e não possui causa, ela provoca toda a miséria e o sofrimento do mundo. E isso só cessa com a morte. Para Schopenhauer, a única esperança é que o ser humano se liberte do poder dessa “vontade” e da carga de individualidade e egoísmo atada a ela. Para chegar a isso, o homem deve ter compaixão e uma abnegação tal como aquela praticada por santos e eremitas. Nesse caminho de renúncia, ele incluiu a apreciação estética das obras de arte, que é a contemplação sem vontade.

Schopenhauer desenvolveu essas ideias em “
O mundo como vontade e representação”, obra-prima de cerca de mil páginas que escreveu durante sua estadia em Dresden. Apesar da crença do autor de que o livro seria no futuro “a fonte e a motivação de uma centena de outros livros”, foram necessárias décadas para que a força e importância dos pensamentos de Schopenhauer fossem descobertos e reconhecidos.

Até obter finalmente esse merecido reconhecimento, o que só aconteceu após o lançamento de seu livro “Parerga et paralipomena”, em 1851, Schopenhauer levou uma vida excêntrica. Na Universidade de Berlim tentou competir de forma mal-sucedida como professor com
Hegel, a quem considerava um impostor. Envolveu-se com uma atriz de 19 anos com quem supostamente pode ter tido um filho – a incerteza deve-se ao fato dela ter, na época, vários amantes. Agrediu fisicamente uma vizinha fofoqueira e foi condenado a indenizá-la pelo resto da vida. Quando uma epidemia de cólera chegou a Berlim – e acabaria causando a morte de Hegel – ele deixou a cidade e na sequência foi morar em Frankfurt onde passou quase três décadas levando uma vida de solteiro de extrema regularidade. Acordava tarde, lia durante três horas, almoçava no prestigioso Englischer Hof on Rossmarkt. À tarde se isolava nas salas de leitura do Casino Society para ler o último exemplar do The Times que havia chegado de Londres e, após, saía para passear com seu poodle. Encerrava sua rotina com mais leituras noturnas.

O reconhecimento que Schopenhauer almejava, desde que publicou “O mundo como vontade e representação”, quando tinha 31 anos, só chegou aos 65. Ele passou então seus sete últimos anos de vida aproveitando a fama que tardiamente alcançou. Schopenhauer autor de alguns dos mais combativos e pessimistas escritos da filosofia morreu em 21 de setembro de 1860, aos 72 anos de idade.

O mundo como vontade e representação

Apenas em um ponto tenho acesso a outro mundo que não seja o da representação. Esse ponto está dentro de mim. Quando percebo meu corpo, isso é representação. Mas também estou consciente dos anseios que dão origem a essa representação: isso é a vontade. Apenas dentro de mim tenho de fato esse duplo conhecimento de vontade e representação.


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