29.2.12

Assassinos: o punhal do fundamentalismo

No século XI, um missionário muçulmano radical fundou uma ordem secreta para impor ao Oriente Médio o ismaelismo, ramo dissidente do xiismo. A história da seita hoje inspira o enredo do jogo de videogame Assassin's creed




Membros da organização em cena do jogo Assassin's creed
por Marie-Hélène Parinaud

No dia 4 de setembro de 1090, Hassan bin Sabbah, um missionário radical, filho de uma poderosa família iraniana da cidade de Qom, conquistou a fortaleza de Alamut, situada no coração das montanhas Elbourz, a 1.800 metros de altitude, no noroeste do Irã. Dali, ele lançaria uma cruzada para impor ao Oriente Médio sua religião: o ismaelismo, ramo dissidente do islamismo xiita que acrescentava aos seis profetas reconhecidos pelo Corão (Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus, Maomé) um sétimo, Ismael.

Bin Sabbah começou então a estabelecer em torno de Alamut uma rede de fortalezas que se estendeu da Síria até o Iraque. Revoltado com a ocupação de seu país, estava decidido a eliminar os invasores turcos e árabes. Ele não queria, porém, recrutar mercenários, mas sim homens que se entregassem de corpo e alma à sua causa. Para isso atraiu fiéis dispostos a lhe obedecer cegamente, aceitando até mesmo o sacrifício supremo da própria vida. Assim nasceu a Ordem dos Assassinos.

Hoje não sabemos exatamente como seus membros agiam, já que os textos da seita desapareceram. Restaram os testemunhos dos seus adversários e dos cronistas europeus que participaram das cruzadas. Seus inimigos contavam que, para assegurar a fidelidade de seus seguidores, Bin Sabbah levava-os, sob o efeito do haxixe, para um maravilhoso jardim perfumado onde fontes derramavam água fresca e jovens mulheres nuas faziam generosas carícias. Nesse estado, era fácil conseguir dos adeptos um juramento de obediência absoluta. Quando despertavam, os membros da ordem eram convencidos de que o paraíso que conheceram brevemente na terra era o mesmo que os aguardava após a morte. Eles eram então treinados para manejar o punhal, arma característica da seita, e submetidos à doutrinação religiosa. Ao longo do processo, passavam por nove etapas de iniciação.

Coube a Hussein Qâ'ini, o melhor agente de Bin Sabbah, a formação da organização clandestina. Os futuros Assassinos aprendiam a língua do país para o qual eram enviados, o modo de se vestir de seus habitantes, seus usos e costumes. Abû Ibrâhim Asibâdâsi, capturado durante uma missão suicida em Bagdá, descreveu o modus operandi da seita. Quando os carcereiros levavam um Assassino para ser executado, ele solicitava a presença do califa e dizia: “Você pode me matar, mas poderá matar todos aqueles que se encontram em seu castelo?”.

De fato, antes de praticar os atentados, os agentes do senhor de Alamut realizavam um longo trabalho de infiltração. Ganhavam a confiança da futura vítima e a matavam, quando ela acreditava estar segura no seio de sua fortaleza. Tal como resumia essa ameaça proferida por outro seguidor: “A vítima será atingida no coração de sua própria cidade e no centro de seu próprio palácio”. Os príncipes temiam ver um de seus favoritos se precipitar em sua direção com um punhal na mão. O primeiro dignitário vítima da lâmina de um punhal foi o vizir de Isfahan, Nizam al-Mulk Tusi.

Do Irã ao Cáucaso, da Síria ao Egito, acumulavam-se os cadáveres dos príncipes muçulmanos. Todos traziam a marca da adaga de Hassan bin Sabbah. A partir de então, nenhum chefe árabe ou turco “ousou sair de sua residência sem escolta, e todos usavam uma armadura sob a roupa, temerosos de ser atingidos pelo punhal dos Assassinos”.

Foi nesse Oriente Médio ameaçado pelos Assassinos que desembarcaram os cruzados vindos da Europa para recuperar Jerusalém. Mas a ação dos cristãos não perturbou em nada a política terrorista de Bin Sabbah. Em várias ocasiões, os cruzados negociaram a neutralidade da ordem. A cada um a sua guerra santa.

Quando Bin Sabbah morreu, em 1124, era tempo da Segunda Cruzada e as tropas cristãs haviam fundado o reino latino de Jerusalém, o principado de Antioquia, os condados de Edessa e de Trípoli. Um dos filhos de Sabbah, Buzourg Umid, assumiu o comando da seita e o nome do pai. Foi o início da lenda do Velho da Montanha. Ignorando a morte de Hassan bin Sabbah pai, seus adversários pensavam que o chefe dos Assassinos era imortal.

Buzourg morreu em 1138, e seu filho Muhammad tornou-se chefe da seita. Seu “reinado” de 23 anos viu a morte de sultões, cádis, vizires, outros califas e até mesmo de um primeiro príncipe cristão, o conde Raimundo II de Trípoli, em 1150. A dinastia e a lenda do Velho da Montanha perpetuaram-se em 1161 quando Qadal al-Dîn Hassan, um dos filhos de Muhammad, assumiu a liderança da ordem. Decidido a acabar com a dinastia dos aiúbidas, Qadal al-Dîn Hassan ordenou, por três vezes, a morte de Saladino, o mais célebre representante dessa família. A primeira tentativa ocorreu em 1174; a segunda, em 1175; e a última, em 22 de maio de 1176. Nenhuma delas teve sucesso.

O reino de terror instaurado pelos Assassinos no Oriente Médio só terminou no século XIII, quando um chefe mongol chamado Halagu conquistou e arrasou a cidadela de Alamut, em 1256. Depois de mais de um século, chegava o fim a lenda do Velho da Montanha.
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