23.4.12

O Empirismo, por Jon Locke



Introdução

No âmbito da disciplina de filosofia foi-me proposta a elaboração de um trabalho individual escrito mediante o tema racionalismo/empirismo.

Dos filósofos que se debruçaram sobre o conhecimento optei por trabalhar John Locke, um filosofo inglês tido como fundador do empirismo. Optei por um texto argumentativo onde Locke explicita a origem das ideias.

Mediante o trabalho pedido analisarei o texto elucidando a sua tese, problema, principais conceitos e argumentos. Incluirei também no trabalho uma pequena biografia de John Locke.

As ideias e a sua Origem

Chamo ideia a tudo aquilo que é o objecto da alma, ou que a ocupa, quando pensa. Ninguém terá dificuldade em me conceder que o homem acha em si estas tais ideias; nem há pessoa que delas não tenha um sentimento interior e pelas palavras, e acções dos outros, não possa julgar que eles têm outras semelhantes. Assim a primeira questão, que se nos oferece, é: como adquirem os homens as suas ideias?

Há muitas pessoas que estão persuadidas, como de uma verdade incontestável, de que o homem tem certos princípios inatos; certas noções primitivas; certos caracteres, que logo no primeiro momento da sua existência lhe são, por assim dizer, gravados. Porém esta opinião expusemos, e refutámos no primeiro livro desta obra.

Os homens podem ter todos os conhecimentos, que possuem, e os podem ter acompanhados de uma perfeita certeza sem o auxílio de nenhum dos tais princípios, mas pelo só uso das faculdades que a natureza lhes concedeu. De facto seria absurdo dizer que Deus imprimiu a ideia de cor na alma de uma criatura, que dotou da faculdade de a receber pela impressão dos objectos exteriores sobre os seus olhos. E não será então demais que tiremos a mesma conclusão no que diz respeito aos outros sentidos e demais conhecimentos? Porque assim o entendo passo a mostrar por que meios, e por que graus adquire a nossa alma todas as suas ideias; e de quanto disser tomo por testemunhas a experiência e observação de cada homem particular.

Suponho portanto que a alma é em princípio, uma tábua rasa sem ideias, sem caracteres; e que os conhecimentos, que depois adquire os adquire por meio da experiência; que se chama sensação, todas as vezes, que nos faz sentir a impressão dos objectos externos e sensíveis; e reflexão quando nos faz reflectir atentamente sobre as operações da nossa alma. Pela reflexão nos vêm as ideias de vontade, de raciocínio, de pensamento, de dúvida, e de outras operações do nosso espírito. Pela sensação recebemos as de frio, de quente; de doce, de amargo; de cor; e enfim de todas as qualidades chamadas sensíveis; porque entram na alma pelos sentidos. E estas são as únicas fontes onde o espírito bebe todas as suas ideias, por mais numerosas e várias que elas sejam.

É coisa bem clara, e evidente, que as crianças adquirem todas as ideias dos objectos com que familiarmente tratam. E se elas depois não se lembram do tempo em que pela primeira vez as receberam é porque rodeados logo que nascem de muitos objectos, que actuam continuamente e por diferentes modos sobre os seus sentidos, todas têm livre entrada no seu espírito, onde se vão gravar, sem que ele para isso concorra a tempo que a sua memória não pode ainda notar o quando pela primeira vez as recebeu. Por isso daqueles tão somente que adquirimos já numa idade mais crescida, ou que são menos comuns, é que temos esta lembrança. Assim parece-me que se poderia criar uma criança de modo, que até chegar à idade perfeita não tivesse mais que umas muito poucas ideias.

Pode-se dizer que o homem então começa a ter ideias quando começa a ter percepções, visto que não são coisas diversas.

Por conseguinte nenhuma razão vejo para que a alma tenha de pensar antes de os objectos fornecerem por meio dos sentidos ideia sobre a qual pense. Antes pelo contrário entendo muito bem que enquanto ela se exercita sobre as ideias que pelos sentidos recebeu, e a memória lhe conserva, por diferentes modos aperfeiçoa a faculdade, que tem de raciocinar: e como combinado depois estas mesmas ideias, e reflectindo sobre as suas operações, aumenta os seus conhecimentos, e ganha o hábito de se lembrar, de imaginar, de raciocinar, e finalmente de produzir todas as outras espécies de cogitações.

John Locke, in Ensaio Philosóphico sobre o entendimento humano,
Pub. Joaquim de Carvalho, Coimbra, Coimbra Editora, pp.88 a 91

Análise do texto

Tese: “A alma é uma tábua rasa sem ideias, e que os conhecimentos que depois adquire os adquire por meio da experiência”

Tema: As ideias e a sua origem.

Problema: Como são adquiridas as ideias.

Principais Conceitos: Ideias; alma; princípios inatos; sentidos; experiência; percepções.

John Locke parte da noção geral de ideia, aquilo que ocupa a alma quando pensa, para levantar o problema do texto: a origem das ideias. Critica a tese racionalista que defende que o homem nasce com ideias implícitas. John Locke considera absurdo que Deus tenha imprimido a ideia de cor na alma humana e por isso não terá decerto imprimido as outras ideias.

A tese empirista defende que a alma é uma tábua rasa, sem ideias, e os conhecimentos que adquire adquiri-os por meio da experiência e da sensação, sendo assim as únicas fontes de conhecimento. Relativamente às ideias de vontade, raciocínio, pensamentos, duvidas, entre outras, estas são reflexões de alma.

Enquanto crianças adquirimos enumeras ideias, tantas que a memória é incapaz de as armazenar a todas e sendo assim só os conhecimentos que adquirimos já mais crescidos é que temos recordação de como o adquirimos. O Homem começa então a ter ideias aquando começa a ter percepções, sendo uma percepção algo compreensível, ou seja: as ideias e as percepções são aquilo que o homem é capaz de compreender.

A alma não tem que pensar antes que os objectos lhe forneça a ideia sobre a qual pense, pelo contrário, é aceitável que ao pensar sobre os objectos recebidos através dos sentidos e guardados na memória a capacidade de raciocinar seja aguçada. E assim, juntando todas as ideias que lhe são transmitidas e realizando operações mentais Locke conclui que a alma aumenta os seus conhecimentos, ganhando o habito de se lembrar, de imaginar, de raciocinar e de produzir assim todas as outras considerações necessárias.

O empirismo é a teoria segundo a qual todo o conhecimento provém da experiência.

Segundo esta corrente não existem ideias, conhecimentos ou princípios inatos. O conhecimento assemelha-se a uma página em branco, onde, antes de qualquer experiência, nada se encontra escrito.

As ideias podem ser simples ou complexas, derivando as complexas da combinação das simples. O conhecimento resultará da ligação de ideias simples adquiridas pela experiência. As ideias mais complexas e abstractas podem ser decompostas nas mais simples e associarem-se formando ideias mais complexas, esta combinação e associação de ideias são uma análise de natureza psicológica, o psicologismo.

A experiência seja ela externa (a sensação) ou interna (a reflexão) marca os limites do conhecimento. O conhecimento encontra-se duplamente limitado pela experiência que pela sua extensão, sendo o entendimento incapaz de ultrapassar os limites impostos pela experiência (que é a única fonte de conhecimento), e pela certeza, sendo as certezas disponíveis referentes àquilo que se encontra dentro dos limites da experiência.

Concluindo o empirismo baseia-se em três aspectos fundamentais:

. a experiência é a origem de todo o conhecimento;

. todas as ideias têm uma base empírica, mesmo as mais complexas;

. o objecto impõe-se ao sujeito.

Se o empirismo admite a experiência como origem de todo o conhecimento, o racionalismo considera a razão a fonte principal do conhecimento, sendo a única fonte do conhecimento verdadeiro. O conhecimento verdadeiro só existe quando é logicamente necessário e universalmente valido.

Por exemplo, afirmar que 2 + 2 = 4 é apresentar um conhecimento com essas características: logicamente necessário pois tem de ser assim, caso contrário entraria em contradição e é universalmente válido pois vale sempre, em todo o lado e para todos os seres humanos.

Este modelo de conhecimento verdadeiro é-nos dado pela matemática, que é valida para todos e nos obriga à sua aceitação, caso contrário entraremos em contradição lógica. Para os racionalistas o conhecimento empírico existe mas não pode ser considerado verdadeiro precisamente porque não se conforma à necessidade racional.

Uma das filosofias representativas do racionalismo é a filosofia platónica, que defende a existência de dois mundos: o mundo sensível, acessível através dos sentidos, caracterizado pela mudança, pela instabilidade, pela aparência, pela imperfeição e o mundo inteligível, a que acedemos através da razão, e que constitui a verdadeira realidade, formando-se nas ideias, essências, formas imutáveis, das quais as coisas sensíveis participam.

Concluindo, o racionalismo baseia-se em três aspectos fundamentais:

. a razão é a origem do conhecimento verdadeiro (universal e necessário);

. as ideias fundamentais dos conhecimentos são inatas;

. o sujeito impõe-se ao objecto através das noções que traz em si.



John Locke

John Locke nasceu em 1632 numa pequena aldeia inglesa, filho de um pequeno proprietário de terras. Estudou na escola de Westminister e Oxford. Foi admitido na Sociedade Real de Londres para estudar medicina.

Locke é o fundador do empirismo a qual propõe que todo conhecimento humano pode ser obtido por meio da percepção sensorial ao longo da vida, a mente do ser humano ao nascer seria como uma folha em branco e tudo que se sabe é aprendido depois.

Afirmava que o mal não era parte de um plano de Deus, e sim produzido por um sistema social criado pelos indivíduos, sendo assim também possivelmente modificado por eles.

“Ensaios”, a sua obra, constitui um grande contributo para a filosofia, debruçando-se sobre temas como: a natureza do ser, o mundo, Deus e níveis de conhecimento.

Foi escritor de economia, activista político e revolucionário dando ideias que levaram à vitória da revolução Gloriosa contra o absolutismo.

Na política, defende que o Estado deve ter por principal objectivo a garantia dos direitos naturais do povo como a protecção da vida, da liberdade e da propriedade de todos. Se o governo não respeitar esses direitos a oposição deverá derrubá-lo e substituí-lo por outro mais competente.

Locke exerceu uma enorme influência sobre todos os pensadores de seu tempo e foi uma das principais referências teóricas para os líderes das revoluções que, a partir do final do século XVIII, transformaram a sociedade ocidental.

Conclusão

Com este trabalho posso concluir que John Locke é um filósofo que defende que as ideias são da origem da experiência e ele vai contra a tese racionalista em que as ideias são inatas.

John Locke defende que a alma é uma tábua rasa e que esta só é preenchida através de experiências, sendo assim o conhecimento limitado.

Fonte: http://www.notapositiva.com