5.2.13

Victor Hugo

Escritor, poeta e dramaturgo francês
* 26/02/1802, Besançon, França
† 22/05/1885, Paris, França.

Victor Hugo, autor de "Os miseráveis" e "O Corcunda de Notre Dame", entre outros.

Filho de Joseph-Leopod-Sigisbert Hugo e de Sophie Trébuchet, nasceu em Besançon, no Doubs. Era o terceiro filho de um general do Império. Victor Hugo passou a sua infância entre Paris, Nápoles e Madrid, consoante as viagens do pai.

Seu pai desistira da escola para se alistar no exército da Revolução Francesa, onde demonstrou um talento incomum, tornando-se general do imperador Napoleão Bonaparte.

Sua mãe era filha de um capitão naval. Admiradora de Voltaire, o espirituoso crítico francês da intolerância religiosa do século dezoito, sua mãe aparentemente nunca o batizou.

Em 1811 Victor Hugo viveu em Madrid. Fez os primeiros estudos, como interno, no Seminário de Los Nobles, na companhia do seu irmão Eugène. No ano seguinte regressaram a França, altura em que os pais se separaram e os dois irmãos foram viver com a mãe, em 1815 no bairro parisiense Val de Grâce. Muito jovem ainda, compôs numerosos poemas. Aos quinze anos recebeu um prémio num concurso de poesia da Academia Francesa. A partir desse momento resolveu dedicar se à carreira literária.

Em 1819 ficou noivo de Adèle Foucher, uma amiga de infância, apesar dos ciúmes do seu irmão Eugène e contra os conselhos da sua mãe. Apaixonado, generoso e dotado de uma extraordinária capacidade de trabalho, Hugo escreveu uma obra colossal e variada.

Em 1822 casa-se com Adèle Foucher com quem tem cinco filhos: Leopold, Leopoldina , Charles, François Victor e Adele.






Victor Hugo (à direita) com dois de seus filhos, Francis (em pé) e Charles, provavelmente em 1853.

Filhos de Victor Hugo, Léopoldine e François- Victor, desenhada por sua mãe, Adèle Hugo.


Em 1843, Leopoldina (filha de Victor Hugo) morreu tragicamente afogada com o marido no naufrágio do seu barco. Hugo será terrivelmente afetado por essa morte que inspirou vários poemas de Contemplações, particularmente, o seu famoso "Amanhã, de madrugada ... "

Com a morte da sua filha, Leopoldina, começa a descobrir e investigar experiências espíritas relatadas numa obra diferente nomeada "Les Tables Tournantes de Jersey" (As Mesas Moventes de Jersey).


Obra Literária e Política


Sua obra prodigiosa – nove romances, dez peças, cerca de vinte volumes de poesia e vários ensaios e discursos – e freqüentemente lírica fez dele um farol da liberdade no século XIX. Ele rompeu com o formalismo sufocante da literatura clássica francesa, alcançando o imediatismo da linguagem corrente. Escrevia com altos propósitos morais sobre eventos dramáticos, e criou alguns dos grandes heróis do mundo literário. O reconhecimento popular que recebeu foi inédito.

Em 1819 fundou, com os seus irmãos, uma revista, o "Conservateur Littéraire" (Conservador Literário) e no mesmo ano ganhou o concurso da Académie des Jeux Floraux, instituição literária francesa fundada no século 14. Em 1820 publicou a novela "Bug Jargal" ao mesmo tempo que recebeu uma pensão de dois mil francos do rei Luís XVIII pela sua "Ode sur la Mort du Duc de Berry".

A primeira coletânea de poema de Hugo foi lançada sob o título Odes et poésies diverses em 1822, com o qual ganhou uma pensão, concedida por Louis XVIII. Um ano mais tarde publicaria o seu primeiro romance, Han s’Islande.

E e então, sucederam obras poéticas que colocaram Hugo na vanguarda do movimento romântico, explorando emoções em um estilo exuberante e melodramático. Ele se aventurou na política com um poema louvando os jovens revolucionários que tinham derrubado o rei Charles X em julho de 1830.

Ele se viu em repetidos confrontos com o governo. Censores interpretaram sua primeira peça, Marion de Lorme, como uma crítica à Charles X, e a produção foi cancelada. Em resposta, Hugo escreveu Henani sobre a história de um herói revolucionário discretamente situada na Espanha do século dezesseis. A peça estreou no teatro da Comédie Française no dia 25 de fevereiro de 1830 e, segundo relatos, recebeu as recepções mais entusiasmadas desde as aclamadas peças de Voltaire no século anterior. Os censores do governo passaram a temer que o cancelamento do espetáculo provocasse uma revolta popular. No entanto, dois anos depois, os censores cancelaram a sucesso seguinte de Hugo, Le Roi s’amuse [“O rei se diverte”], que retratava François I, um dos reis mais famosos da França, de um modo nada elogioso. Giuseppe Verdi, brilhante compositor de óperas italiano, que já havia transformado Hernaniem ópera, afirmou que Le Roi s’amuse era “o maior dos dramas modernos” e o tomou como base para sua popular ópera Rigoletto.

Hugo estava determinado escrever ficção. Bug-Jargal (1826), seu primeiro romance, era um melodrama sobre as rebeliões dos negros em Santo Domingo; embora os críticos tenham-no considerado um lixo, o público o amou.

No prefácio do drama Cromwell (1827) expõe uma teoria teatral resolutamente oposta à classicista. Na mesma época instala-se em França a batalha romântica, que é ao mesmo tempo literária e política, dado que os classicistas são liberais e os românticos partidários da monarquia. Em 1830 estreia-se Hernâni, drama anticlássico de ambiente espanhol que dá a vitória à facção romântica e difunde os seus princípios de liberdade formal. Nos anos seguintes Hugo insiste nesta linha teatral (O Rei Diverte-se, Lucrécia Bórgia, Rui Blas).






Enquanto isso, Adèle, esposa de Hugo, estava entendiada; em 1831, ela já tinha começado um caso com Sainte-Beuve, o crítico literário. Ela se recusou a manter seu relacionamento com Hugo, que se lançou em uma extraordinária sucessão de casos amorosos; a maior parte deles era breve, mas um deles – com a atriz Juliette Drouet – começou em 1833 e durou até a morte dela meio século depois. Quatro anos mais jovem que ele, ela tinha longos cabelos pretos, olhos violetas, era magra, e tinha um conhecimento considerável da literatura francesa. Ele pagava as dívidas dela, e ela copiava os manuscritos dele.


O período 1829-1843 foi o mais produtivo da carreira do escritor. Seu grande romance histórico, "Notre Dame de Paris" - mundialmente conhecido como "O Corcunda de Notre Dame" - (1831), o conduziu à nomeação de membro da Academia Francesa, em 1841.

Criado no espírito da monarquia, o escritor acabou se tornado favorável a uma democracia liberal e humanitária. Eleito deputado da Segunda República, em 1848, apoiou a candidatura do príncipe Luís Napoleão, mas se exilou após o golpe de Estado que este deu em dezembro de 1851, tornando-se imperador. Hugo condenou-o vigorosamente por razões morais em "Histoire d'un Crime".

Durante o Segundo Império, em oposição a Napoleão 3o, viveu em exílio em Jersey, Guernsey e Bruxelas. Foi um dos poucos a recusar a anistia decidida algum tempo depois. O Times de Londres declarou: “Estamos orgulhosos por Victor Hugo ter escolhido viver em solo inglês, que se alimenta da sua presença, e se enriquece por meio dela”. O New York Tribune também disse: “Sua voz é a voz dos homens livres do mundo inteiro”.

Hugo passou a falar mais sobre a liberdade. Denunciou a execução de John Brown, que tentara provocar uma revolta de escravos na Virgínia em dezembro de 1859, e louvou os esforços de Giuseppe Garibaldi para estabelecer uma democracia liberal na Itália. Diante de uma platéia de mais de mil pessoas reunidas na ilha de Jersey, Hugo disse que “a liberdade é o bem mais precisos de toda a humanidade. Comida e água não são nada; vestimentas e abrigos são luxos. Quem é livre permanece com sua cabeça erguida, mesmo que esteja com fome, sem roupas e sem teto. Eu dedicarei a minha própria vida, o que quer que ainda reste dela, à causa da liberdade – liberdade para todos!”

Então, Hugo se voltou para um projeto que há muito estava passando por sua cabeça: um romance provisoriamente intitulado Misères [“Misérias”], para o qual começara a tomar notas ainda em 1840. Trabalhou nele de 1845 até fevereiro de 1848 (quando outra revolução na França interrompeu seu trabalho), indo adiante, mudando o título hesitantemente para Jean Trejean, e finalmente deixando o manuscrito de lado. No dia 26 de abril de 1860, foi ao cofre de estanho onde tinha guardado o manuscrito e retomou seu trabalho. Escreveu que passara “quase sete meses repensando e clarificando toda a minha primeira concepção da obra, de modo que viesse a haver uma unidade completa entre o que eu escrevi doze anos atrás e o que vou escrever agora”. Suspendeu seus dois banquetes diários e passou a escrever como um relâmpago. Escreveu dois terços do livro em 1861, e terminou Os miseráveis em 19 de maio de 1862.

Embora transborde simpatia e generosidade em Os miseráveis para com as pessoas que passam por dificuldades, Hugo sempre permaneceu distante dos socialistas da sua época. Ele parecia estar atacando o dogma marxista da luta de classes quando escreveu que “Existe uma tentativa – uma tentativa errônea – de fazer da burguesia uma classe especial. Mas a burguesia é somente a porção satisfeita do povo; o burguês é o homem cuja vez de se sentar chegou. Uma cadeira não é um castelo”. Hugo persistiu em seu ataque: “O comunismo e o agrarianismo acreditam que resolveram este segundo problema [da distribuição de renda], mas estão enganados: a distribuição destrói a produtividade. A repartição em partes iguais mata a ambição e, por conseqüência, o trabalho. É uma distribuição de açogueiros, que mata aquilo que reparte. Portanto, é impossível tomar essas pretensas soluções como princípio. Destruir riqueza não é distribuí-la”. Ele acreditava na capacidade do empreendedorismo privado e da paz de amenizar a pobreza: “Todo progresso caminha na direção dessa solução. Algum dia, todos ficaremos surpresos, pois veremos que com a ascensão de toda a raça humana, as suas camadas mais baixas também irão naturalmente sair da zona de sofrimento em que se encontram. A abolição da miséria será alcançada simplesmente com uma simples elevação do nível de todos”.


Esta obra, traz claramente a filosofia política de Victor Hugo. É um mundo onde há cooperação - e não luta - entre as classes; onde o empreendedor desempenha um função essencialmente benéfica para todos; onde o trabalho é a via principal de aprimoramente pessoal e social; onde a intervenção estatal por motivos moralista - seja do policial ou do revolucionário obcecado pela justiça terrena - é um dos principais riscos para o bem de todos que será gerado espontaneamente pelos indivíduos privados.

Sempre um reformista, envolve-se em política por toda a sua vida. Mas se critica as misérias sociais, não adota o discurso socialista da luta de classes. Pelo contrário, ele próprio viveu uma vida financeiramente confortável, construída com seus próprios esforços, tornando-se um dos escritores mais bem remunerados de sua época. Acreditava no direito do homem usufruir dos frutos do seu trabalho, embora reforçasse a responsabilidade que acompanha o enriquecimento pessoal. Desse modo, sempre buscou prosperar enquanto doava uma parte significativa de sua renda para diferentes obras de caridades.

Victor Hugo, no entanto, nunca aceitou o discurso socialista. Ele acreditava que uma sociedade aberta encontraria soluções para seus problemas. Mais que isso, ele era contra políticas de redistribuição de riquezas, pois o efeito dessas seria desincentivar a produção, fazendo com que toda a sociedade caminhasse para trás. Caso fosse permitida a liberdade de comércio, por outro lado, e caso se tolerasse algum grau de desigualdade social, o resultado - largamente comprovado pela história posterior - seria o progresso geral de todos, beneficiando inclusive os membros mais pobres da sociedade. Portanto, a defesa de um ordem que permita o progresso é benéfica para todos, e não para uma classe específica.

"O comunismo e o agrarianismo acreditam que resolveram este segundo problema [da distribuição de renda], mas estão enganados: a distribuição destrói a produtividade. A repartição em partes iguais mata a ambição e, por conseqüência, o trabalho. É uma distribuição de açogueiros, que mata aquilo que reparte. Portanto, é impossível tomar essas pretensas soluções como princípio. Destruir riqueza não é distribuí-la".

A partir de 1849, Victor Hugo dedicou sua obra à política, à religião e à filosofia humana e social. Reformista, desejava mudar a sociedade mas não mudar de sociedade. Em 1870 Hugo retornou a França e reatou sua carreira política. Foi eleito primeiro para a Assembléia Nacional, e mais tarde para o Senado. Não aderiu à Comuna de Paris mas defendeu a anistia aos seus integrantes.

De acordo com seu último desejo, foi enterrado em um caixão humilde no Panthéon, após ter ficado vários dias exposto sob o Arco do Triunfo.


O enterro de Victor Hugo em 1885

Fonte: Uol | www.vidaslusofonas.pt/victor_hugo.htm | http://www.victorhugo.culture.fr/ | http://artculturalbrasil.blogspot.com/2010/01/condoreirismo.html | http://galeriaphotomaton.blogspot.com/2009/05/victor-hugo-vida-e-obra.html | http://www.ordemlivre.org/node/368 | http://www.truca.pt/ouro/biografias1/victor_hugo.html

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