18.11.13

"Monuments Men" preservaram patrimônio cultural europeu na 2ª Guerra



Unidade especial americana tinha como missão rastrear e resgatar obras de arte roubadas pelos nazistas e proteger monumentos. Livro, filme e caso recente do "Tesouro de Munique" remetem à história dos "Monuments Men".


Comandante Dwight D. Eisenhower inspeciona obras de arte recuperadas


Os chamados "Monuments Men" (literalmente "homens dos monumentos") foram uma unidade especial de peritos em arte que, durante e após a Segunda Guerra Mundial, tinham como missão proteger obras artísticas das consequências da guerra e recuperar itens roubados pelos nazistas. Sua história tornou-se tema de um livro e, mais recentemente, de um filme com lançamento previsto para o início do próximo ano.

Os detetives da arte investigaram, entre outros, Hildebrand Gurlitt, marchand que ganhou notoriedade recente, após 1.406 obras – entre as quais 315 peças modernistas da chamada "arte degenerada", confiscada pelos nazistas – serem apreendidas no apartamento de seu filho, Cornelius Gurlitt, em Munique.

Hildebrand era velho conhecido dos "Monuments Men": afinal, ele contava entre os principais negociantes de arte alemães da época nazista. Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, os investigadores não o interrogaram sobre a "arte degenerada", desejando, antes, obter informações sobre obras de origem francesas. Entre 1942 e 1944 o marchand comprara, de forma totalmente legal, 200 quadros e gravuras de seus colegas de Paris.

História contada em livro e filme

O nome oficial da unidade especial era Monuments, Fine Arts, and Archives Section (Seção de Monumentos, Belas-Artes e Arquivos). Composta por 350 homens e mulheres – em sua maioria americanos, mas também ingleses, franceses e alemães emigrados –, ela rastreava pinturas e esculturas, sobretudo na França, Alemanha e Itália.
George Stout (e), líder dos "Monuments Men", durante escavação

A história dos "Monuments Men" é conhecida há décadas por historiadores e peritos de arte, mas chegou ao grande público após a publicação, em 2009, do livro Monuments Men: Allied heroes, nazi thieves and the greatest treasure hunt in history (Heróis aliados, ladrões nazistas e a maior caça de tesouro da história), do historiador amador americano Robert M. Edsel.

O ator e diretor George Clooney adquiriu os direitos do livro para realização de um filme sobre o esquadrão em defesa da arte. Rodado em meados de 2013, The Monuments Men tem estreia prevista para fevereiro próximo, no festival internacional de cinema Berlinale.

O caso de Hildebrand e Cornelius Gurlitt conferiu atualidade adicional aos "Monuments Men". No entanto, não se trata de um episódio concluso da história passada, pois pinturas e esculturas seguem sendo alvo de pilhagens em tempos de guerra. Edsel enfatiza que sempre foi assim, e ainda é. Ele estabelece, por exemplo, paralelos entre incidentes da Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945, e da guerra no Iraque, em 2003.

Missão: resgatar arte e cultura

Comparada ao sofrimento da população civil, de mulheres e crianças, a destruição de bens materiais parece, para muitos, ficar em segundo plano. Mas, como questionou o líder dos "Monuments Men", George Stout, ao iniciar a missão em 1944: "E se nós vencermos a guerra e perdermos os últimos 500 anos da nossa história cultural?" O comandante supremo americano, Dwight D. Eisenhower, também tinha essa questão em mente, ao declarar a preservação dos bens culturais europeus como meta de guerra.
Matt Damon (e) e George Clooney em cena de "The Monuments Men"

Quando as tropas aliadas repeliram os alemães da Normandia e da Itália, alguns dos "Monuments Men" também estavam entre as centenas de milhares de soldados. A pequena unidade especial tinha como única tarefa proteger o patrimônio cultural ameaçado, rastreando e pondo a salvo obras de arte saqueadas.

Ao bater em retirada, os militares alemães muitas vezes adotavam a tática da terra arrasada, não poupando nem mesmo monumentos de valor histórico-cultural. Além disso, a sede de colecionar e ganância dos nazistas levaram à pilhagem de centenas de milhares e pinturas e esculturas de museus, igrejas e coleções particulares. Mas também os bombardeios dos Aliados e os saques pelos soldados ameaçavam o rico patrimônio cultural europeu.

"Perigo, minas!"

Entre museólogos, restauradores, arquitetos e arquivistas, a maioria dos "Monuments Men" tinha formação artística. Em meio ao pandemônio da guerra e o caos das invasões, seu trabalho era árduo e perigoso. A primeira tarefa era o registro dos monumentos.

Também os soldados aliados não mostravam grande consideração pela arte e cultura, mesmo depois de os nazistas já haverem batido em retirada. Assim, os peritos de arte tinham que lançar mão de truques. Quando faixas de isolamento com os dizeres "Monumento – Acesso proibido" não surtiam o resultado desejado, pregava-se então uma placa de "Perigo, minas!". Desse modo, muitas igrejas e palácios – sobretudo no norte da França, mas também na Bélgica e na Holanda – foram salvos da destruição.
Unidade era formada por 350 homens e mulheres, na maioria americanos

Nos últimos dias da ocupação, os alemães agiam com selvageria, descreveu em 1944 George Stout, em carta a sua esposa. "Olhando daqui, eles não parecem mais ser um povo inocente com líderes criminosos. Todos parecem criminosos." Isso ficou evidente quando, nas últimas semanas da guerra, os "Monuments Men" encontraram os numerosos depósitos onde os nazistas haviam armazenado e escondido as obras de arte saqueadas.

Geralmente em minas de sal e de carvão abandonadas, mas também em palácios e fortalezas, os líderes nazistas obcecados pela arte haviam ocultado pinturas de Leonardo da Vinci e Vermeer, Rembrandt e Michelangelo: tesouros culturais europeus de valor inestimável haviam ido parar debaixo da terra.

Retorno tardio

Os depósitos foram localizados pelos "Monuments Men", as obras de arte resgatadas dos túneis de mineração e levadas a um ponto central de coleta. De lá, nos primeiros anos do pós-guerra, elas eram transferidas para museus. Nesse processo, muitas vezes se ignorou o fato de não serem estes os proprietários de direito, e que originalmente grande parte do quadros e esculturas fora subtraída de donos judeus.

Apenas décadas mais tarde, após a queda da chamada Cortina de Ferro entre os blocos ocidental e comunista, empreenderam-se esforços para devolver grande parte dessas obras de arte aos verdadeiros proprietários ou a seus descendentes.

A história contada por Robert M. Edsel em seu livro, e levada as telas dos cinemas por George Clooney, pertence a um passado distante, mas nunca foi esquecida. Nas últimas décadas, toda vez que se discutia sobre a origem e propriedade original de uma determinada obra, era inevitavelmente lembrado o trabalho dos "Monuments Men".

Fonte: DW.DE